Ao menos 90 pessoas são detidas em protestos no Jaçanã (SP); um homem é baleado
Ao menos 90 pessoas foram detidas durante manifestações realizadas em diversos pontos da região do Jaçanã, na zona norte de São Paulo (SP), na noite desta segunda-feira (28), segundo a Polícia Militar. Os ativistas protestavam contra a morte do adolescente Douglas Rodrigues, 17, durante uma abordagem de policiais militares ocorrida no domingo (27).
Um grupo interditou a rodovia Fernão Dias no km 86 em ambos os sentidos por volta das 19h. A pista sul (sentido São Paulo) foi liberada às 20h10, segundo a concessionária. A pista norte (sentido Belo Horizonte) foi liberada completamente no fim da noite.
Também houve protestos --com cerca de 500 pessoas-- em outros pontos do Jaçanã, entre eles as avenidas Edu Chaves, Roland Garros e Luís Stamatis. Os atos, segundo a PM, iniciaram por volta das 17h50, logo após o enterro do jovem morto.
Três caminhões e seis ônibus foram queimados, conforme a polícia. Alguns dos veículos, assim como lojas da região, foram saqueados. Um pedestre, que estava passando próximo ao protesto, foi atingido por uma bala disparada pelos próprios manifestantes, segundo a PM.
Segundo o Hospital Municipal São Luiz Gonzaga, o jovem --que não foi identificado-- deu entrada no pronto-socorro com um tiro no abdômen e passa por cirurgia. Não foi informado, no entanto, se o estado de saúde dele era grave ou não. O ferido era um pedestre que passava próximo a uma loja que estava sendo depredada.
Os policiais chegaram a rodovia Fernão Dias para conter a ação dos manifestantes cerca de 20 minutos após o início do protesto. Os manifestantes foram dispersados por volta das 19h30. Na ocasião, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, chegou a entrar em contato com o Ministério da Justiça para propor uma ação conjunta, já que se tratava de uma via federal.
Às 21h51, os manifestantes voltaram para a via e incendiaram um carro na pista.
Morte causou revolta em moradores
A abordagem dos PMs que terminou com a morte do adolescente aconteceu no domingo (27) às 14h. Cerca de duas horas depois, revoltados, moradores da região fizeram um protesto que terminou com três ônibus de transporte coletivo queimados, assim como um veículo que estava estacionado em uma das ruas do bairro.
Localização do protesto
Lojas e agências bancárias também foram depredadas, e lixeiras, queimadas.
Em nota, a assessoria de imprensa da polícia informou que dois PMs "atendiam ocorrência de perturbação do sossego, quando suspeitaram de dois indivíduos e decidiram fiscalizá-los."
"Ao sair da viatura para realizar a abordagem, por motivo a esclarecer, houve disparo acidental, que atingiu o adolescente, de 17 anos, no tórax. O fato se deu na rua Bacurizinho, esquina com a avenida Mendes da Rocha, por volta das 14 horas. A vítima foi imediatamente socorrida ao hospital Jaçanã, mas faleceu", diz a nota da PM.
Uma testemunha, moradora do bairro, confirmou ao UOL que a abordagem da PM ocorreu por conta de uma ocorrência de som excessivamente alto na rua. "Nesta abordagem o policial ao sair do veículo acabou baleando um motorista", relatou, sob a condição de anonimato.
A mãe de Douglas, Rossana de Souza, disse que o filho cursava o 3º ano do ensino médio e era funcionário de uma lanchonete do bairro de Pinheiros, na zona oeste. "Ele acordava todo dia às 4h30 para ir trabalhar. Voltava, tirava uma sonequinha e ia para a escola", lamentou. "Ele ainda perguntou: 'Senhor, por que o senhor atirou em mim?' Nem ele sabe por que tomou um tiro", disse. "Eles [policiais] não sabem a dor que estou sentindo", desabafou.
O PM que efetuou o disparo foi autuado em flagrante por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e foi encaminhado ao presídio militar Romão Gomes, na zona norte da capital. Mas, segundo o advogado Fernando Fabiani Capano, que defende Luciano Pinheiro Bispo, 31, "nenhum policial sai às ruas dizendo 'vou matar alguém'. Foi um acidente".
O caso é investigado também pelo 73º DP (Jaçanã), onde os PMs envolvidos na abordagem foram ouvidos ontem à noite.
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